Bandarra-Profeta de Trancoso

BANDARRA, O PROFETA DE TRANCOSO




BANDARRA, O PROFETA DE TRANCOSO

E O IMPÉRIO DO ESPIRITO SANTO


Gonçalo Anes, mais conhecido por Bandarra, nasceu, viveu e morreu no século XVI, em Trancoso, aqui bem perto, na Beira Alta e não muito longe da Serra da Estrela.

Era um Grande Sacerdote, do Clã do Povo, pertencente à Ordem dos V.I.R.I.A.T.O.

A sua origem vem do Reino de Agharta, externado este, no território de Portugal, sob a custódia de Sírius.

Sempre acompanhados por esta estrela protectora, os Lusos (de luz) rumaram tutelados por um dos Sumos Sacerdotes do Fogo Sagrado Aghartino (Vicário do Ígneo Reino e Antigo Templo e Ordem), conhecido como VIRIATO, defensor dos Segredos Herméticos, Prior ou Pastor dos Montes Hermínios (herméticos), ou da Estrela, fundando a Lusitânia.

E, sendo Viriato o Manú, o condutor da Raça, equivalente ao Moisés Lusitano, Bandarra foi, mais tarde, com toda a glória, o Nostradamus português.

“Para o padre António Vieira, a rusticidade de Bandarra, numa vila de interior, justificava-se pela intervenção divina”.

“Para Fernando Pessoa, Bandarra era o símbolo eterno do que o povo pensa de Portugal”.

Estes três homens tinham algo que verdadeiramente os unia, além da própria e inerente verdade de sermos todos filhos de Deus e, portanto, irmãos.

Só quando o ser humano ama tanto a vida interior que dela nada espera é que pode chegar a descobrir a sua verdadeira tarefa, que, quase sempre, não é a mais evidente.

Quando erguemos os olhos aos cumes da vida interior, recolhendo-nos e distanciando-nos, silenciosamente,

do burburinho do mundo, é que podemos reconhecer a proximidade da presença do guardião da Chama da Vida.

Essa presença está no interior de todos os homens e, ao mesmo tempo, nenhum deles a pode abarcar por inteiro. Estando viva no interior deles alimenta no planeta a certeza de que há um novo mundo a ser descoberto, um mundo sublime, que distribui as suas dádivas aos que o alcançam e que os estimula a tornarem-se legado da humanidade.

Quando é dado à consciência erguer-se acima de si mesma, sem nada querer, a não ser estar mais próxima da luz e a ela se entregar, é capaz de perceber quanto é necessário haver referências superiores, padrões de conduta elevados e claros, sendo vividos aqui, na Terra.

Quando a decisão é firmada, o passado já não atrai o “peregrino”. Mesmo que enevoantes lembranças dele se acerquem, já reconheceu o “segredo da Medusa” e não se deixa iludir. Os seus passos são firmes, a sua fé é inabalável. Sua respiração é profunda, pois o alento do cosmos o sustenta.

Nada pede para si, nada espera da vida. Apenas segue, cumprindo o que, do Alto, lhe é indicado no silêncio.

Eis, pois, o ponto de união entre Bandarra, Padre António Vieira e Fernando Pessoa. Eis, pois o que é o Quinto Império, o que é a Nova Terra, o que é a Era de Aquário, o que é o regresso da Deusa/Mãe, o que é o Império do Espírito Santo!

“O que é feito de matéria ao mundo pertence. Renunciai ao que vos prende e caminhai rumo à Luz”

(Agradecimentos e parabéns a os EM CANTOS, quarteto de jovens de Trancoso, que tiveram a feliz inspiração de gravarem, em áudio, um CD, com as Trovas do Bandarra. Grata ao Irmão Sol, através de C. Carvalho, pelo Conhecimento que me foi revelado. Grata a J. Trigueirinho Netto, pela ajuda que busquei no seu livro “Aos que despertam”. E, muito agradecida a Bandarra, por “existir”)
(prefere estar anónima)
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 Trovas do Bandarra
Sente Bandarra as maldades do mundo, e particularmente as de Portugal.
1
Como nas Alcaçarias
Andão os couros ás voltas,
Assim vejo grandes revoltas
Agora nas Clerezias.

2
Porque usão de Simonias
E adorão os dinheiros,
As Igrejas, pardieiros,
Os corporaes por mais vias.

3
O sumagre com a cal
Faz os couros ser mociços,
Ah! quantos ha máos noviços
Nessa Ordem Episcopal.

4
Porque vai de mal a mal
Sem ordem nem regimento,
Quebrantaõ o mandamento,
Cumprem o mais venial.

5
Tambem sou Official
Sei um pouco de cortiça
Não vejo fazer justiça
A todo o Mundo em geral.

6
Que agora a cadaqual
Sem letras fazem Doutores,
Vejo muitos julgadores,
Que não sabem bem, nem mal.

7
Borzeguins pera calçar
Haõ de ser de cordovães,
Notarios, Tabaliães
Tem o tento em apanhar.

8
Vêlos heis a porfiar
Sobre um pobre seitil,
E rapar vos por um mil
Se volos podem rapar.

9
Tambem sei algo brunir
Quaesquer laços de lavores:
Bachareis, Procuradores
Ahi vai o perseguir.

10
E quando lhe vão pedir
Conselho os demandões,
Como lhe faltão tostões,
Não os querem mais ouvir.

11
Há de ser bem assentada
A obra dos chapins largos,
A linhagem dos Fidalgos
Por dinheiro he trocada.

12
Vejo tanta misturada
Sem haver chefe que mande;
Como quereis, que a cura ande,
Se a ferida está danada?

13
Tenho uma gentil sovela,
Com que cozo mui direito:
Se a mulher não desse geito,
Não olharião pera ella.

14
Em que seja uma donzella
Nobre, casta e oradora
Ella he a causadora,
Do que acontecer por ella.

15
Sei tambem mui bem cozer
Uns borzeguins Cordovezes;
Todos os trajos Francezes
Quemquer os quer ja trazer.

16
Os que não tem que comer
Fazem trajos mui prezados,
Ficão pobres, Lazarados
Por outros enriquecer.
SONHO SEGUNDO

Oh! Quem tivera poder
Para dizer,
Os sonhos que o homem sonha!
Mas hei medo, que me ponha
Grão vergonha
De mos não quererem crer.
Vi um grão Leão correr
Sem se deter
Levar sua viagem,
Tomar passagem,
Sem nada lho defender.


Tirará toda a escória
Será paz em todo o Mundo,
De quatro Reis o segundo
Haverá todo a vitória.


Será dele tal memória
Por ser guardador da lei,
Polas armas deste Rei
Lhe darão triunfo, e glória.


Trinta e dois anos e meio
Haverá sinais na terra;
A Escritura não era;
Que aqui faz o conto cheio.


Um dos três que vão arreio
Demonstrar ser grão perigo;
Haverá açoite, e castigo
Em gente que não meneio.


Já o tempo desejado
É chegado
Segundo o firmal assenta
Já se passam os quarenta
Que se ementa
Por Doutor já passado.
O Rei novo é acordado
Já dá brado:
Já arressoa o seu pregão
Já Levi lhe dá a mão
Contra Siquém desmandado.
E segundo tenho ouvido,
E bem sabido,
Agora se cumprirá:
A desonra de Dina
Se vingará
Como está prometido.


O Rei novo és escolhido
E elegido,
Já alevanta a bandeira
Contra a Grifa parideira
Que tais pastos tem comido;
Porque haveis de notas,
E assentar
Aprazendo ao Rei dos Céus
Trará por ambas as Leis,
E nestes seis
Vereis coisas de espantar.


O néscio quer afirmar,
E declarar
Desde seis até setenta
Que se ementa,
Do Rei que irá livrar.
Louvemos este Barão
Do coração,
Porque é Rei de Direito;
Deus o fez todo perfeito
Dotado de perfeição.


Este Rei tem um Irmão,
Bom capitão.
Não se sabe a irmandade?
Todo é nobre, em bondade;
E na verdade
Que sairá com o pendão.

Muitos estão desejando,
E altercando,
Se o meu dito será certo,
Se de longe, se de perto?
E sobre o tal praticando
Aquele grão Patriarca
No-lo mostra, e está falando,
E declara o grão Monarca:
Ser das terras, e comarca,
Semente del Rei Fernando.


Este Rei de grão primor,
Com furor,
Passará o mar salgado
Em um cavalo enfreado,
E não selado,
Com gente de grão valor.


Este diz, socorrerá,
E tirará,
Aos que estão em tristura,
Desde, conta a Escritura,
Que o campo despejará,
Os Fidalgos estimados,
E desprezados,
Que até agora são corrigidos,
Com o tal serão erguidos,
E mui queridos,
E com os Reis estimados.


Se lerdes as Profecias
De Jeremias,
Irão dos cabos da terra
Tomar os Vales, e Serra,
Pondo guerra,
E tirar as heresias,
Derrubar as Monarquias,
E fantasias
Serão bem apontoadas,
Serão todas derrubadas,
Desconsoladas
Fora das possentadorias.


Ainda mais profetizando,
E declarando:
Seus pequenos das manadas,
Derrubar-lhe-ão as moradas
Bem entradas,
E assim o vai mostrando.
Já o Leão vai bradando,
E desejando
Correr o porco selvagem,
E tomá-lo-á na passagem
Assim o vai declarando.


Muitos podem responder,
E dizer:
Com que prova o sapateiro
Fazer isto verdadeiro,
Ou como isto pode ser?
Logo quero responder
Sem me deter.
Se lerdes as Profecias
De Daniel e Jeremias
Por Esdras o podeis ver.
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                                                                O Sapateiro de Trancoso

António Gonçalves de Bandarra (1500-1556) nasceu e faleceu em Trancoso.

Tendo exercido a profissão de sapateiro, dedicou-se à divulgação em verso de profecias de cariz messiânico. Por causa disso, foi acusado pela Inquisição de judaísmo e as suas trovas foram incluídas no Catálogo de Livros Proibidos. D. João de Castro foi o editor da primeira edição conjunta das trovas, com o título Paráfrase e Concordância de Algumas Profecias de Bandarra, publicadas provavelmente em Paris no ano de 1603. A obra foi bem recebida pelos nacionalistas portugueses que aspiravam libertar-se do jugo de Espanha, interpretando as trovas como uma profecia ao regresso do Rei D. Sebastião. Em 1802, as trovas tiveram uma segunda edição, na cidade francesa de Nantes, patrocinada pelo Marquês de Nisa. São reimpressas em 1809 (Barcelona e Londres), aquando das invasões francesas, com prefácio de Frei José Leonardo da Silva. Em 1815, com o título Trovas Inéditas do Bandarra sai uma nova edição. Entre 1822-1823, com o título Verdade e Complemento das Profecias, uma outra. As Trovas do Bandarra influenciaram o pensamento sebastianisma e messiánico de Padre António Vieira e de Fernando Pessoa.

Fernando Pessoa, sobre o Bandarra

 

Sonhava, anónimo e disperso,
O Império por Deus mesmo visto,
Confuso como o Universo
E plebeu como Jesus Cristo.

Não foi nem santo nem herói,
Mas Deus sagrou com Seu sinal
Este, cujo coração foi
Não português, mas Portugal.