D. TAREJA
As nações todas são mysterios. Cada uma é todo o mundo a sós. Ó mãe de reis e avós de imperios, Vella por nós! Teu seio augusto amamentou Com bruta e natural certeza O que, imprevisto, Deus fadou. Por elle resa! Dê tua prece outro destino A quem fadou o instincto teu! O homem que foi o teu menino Envelheceu. Mas todo vivo é eterno infante Onde estás e não há o dia. No antigo seio, vigilante, De novo o cria!
O homem e a hora são um só Quando Deus faz e a história é feita. O mais é carne, cujo pó A terra espreita. Mestre, sem o saber, do Templo Que Portugal foi feito ser, Que houveste a gloria e deste o exemplo De o defender. Teu nome, eleito em sua fama, É, na ara da nossa alma interna, A que repelle, eterna chamma, A sombra eterna.
D. AFONSO HENRIQUES
Pae, foste cavalleiro.
Hoje a vigilia é nossa.
Dá-nos o exemplo inteiro
E a tua inteira força!
Dá, contra a hora em que, errada,
Novos infieis vençam,
A benção como espada,
A espada como benção!
D. DINIS
Na noite escreve um seu Cantar de Amigo O plantador de naus a haver, E ouve um silencio murmuro comsigo: É o rumor dos pinhaes que, como um trigo De Imperio, ondulam sem se poder ver. Arroio, esse cantar, jovem e puro, Busca o oceano por achar; E a falla dos pinhaes, marulho obscuro, É o som presente d’esse mar futuro, É a voz da terra anciando pelo mar.
D. PHILIPPA DE LENCASTRE
Que enigma havia em teu seio
Que só genios concebia?
Que archanjo teus sonhos veio
Vellar, maternos, um dia?
Volve a nós teu rosto serio,
Princeza do Santo Gral,
Humano ventre do Imperio,
Madrinha de Portugal!
D. JOÃO,
INFANTE DE PORTUGAL
Não fui alguem. Minha alma estava estreita
Entre tam grandes almas minhas pares,
Inutilmente eleita,
Virgemmente parada;
Porque é do portuguez, pae de amplos mares,
Querer, poder só isto:
O inteiro mar, ou a orla vã desfeita –
O todo, ou o seu nada.
D. SEBASTIÃO,
REI DE PORTUGAL
Louco, sim, louco, porque quiz grandeza Qual a Sorte a não dá. Não coube em mim minha certeza; Porisso onde o areal está Ficou meu ser que houve, não o que ha. Minha loucura, outros que me a tomem Com o que nella ia. Sem a loucura que é o homem Mais que a besta sadia, Cadaver addiado que procria?
Que aureola te cerca? É a espada que, volteando, Faz que o ar alto perca Seu azul negro e brando. Mas que espada é que, erguida, Faz esse halo no céu? É Excalibur, a ungida, Que o Rei Arthur te deu. Sperança consummada, S. Portugal em ser, Ergue a luz da tua espada Para a estrada se ver!