O Grande Agostinho da Silva

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George Agostinho Baptista da Silva (Porto, 13 de Fevereiro de 1906Lisboa, 3 de Abril de 1994), foi um filósofo, poeta e ensaísta português. O seu pensamento combina elementos de panteísmo, milenarismo e ética da renúncia, afirmando a Liberdade como a mais importante qualidade do ser humano. Agostinho da Silva pode ser considerado um filósofo prático e empenhado através da sua vida e obra, na mudança da sociedade.

 Biografia

George Agostinho Baptista da Silva nasceu no Porto em 1906, tendo-se ainda nesse ano mudado para Barca d'Alva (Figueira de Castelo Rodrigo), onde viveu até aos seus 6 anos, regressando depois ao Porto, onde inicia os estudos na Escola Primária de São Nicolau em 1912, ingressando em 1914 na Escola Industrial Mouzinho da Silveira e completando os estudos secundários no Liceu Rodrigues de Freitas, de 1916 a 1924.

Dono de um percurso académico notável, de 1924 a 1928, cursou Filologia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, tendo concluído a licenciatura com 20 valores. Após concluir a licenciatura começa a escrever para a revista Seara Nova, colaboração que manteve até 1938.

Em 1929, com apenas 23 anos, defende a sua dissertação de doutoramento a que dá o nome de "O Sentido Histórico das Civilizações Clássicas", doutorando-se "com louvor".

Em 1931 parte como bolseiro para Paris, onde estuda na Sorbonne e no Collège de France. Após o seu regresso em 1933, leciona no ensino secundário em Aveiro até ao ano de 1935, altura em que é demitido do ensino oficial por se recusar a assinar a Lei Cabral, que obrigava todos os funcionários públicos a declararem por escrito que não participavam em organizações secretas (e como tal subversivas). No mesmo ano, consegue uma bolsa do Ministério das Relações Exteriores de Espanha e vai estudar para o Centro de Estudos Históricos de Madrid. Em 1936 regressa a Portugal devido à iminência da Guerra Civil Espanhola.

Cria o Núcleo Pedagógico Antero de Quental em 1939, e em 1940 publica Iniciação: cadernos de informação cultural. É preso pela polícia política em 1943, abandonando o país no ano seguinte (1944) em direcção à América do Sul, passando pelo Brasil, Uruguai e Argentina, no seguimento da sua oposição ao Estado Novo conduzido por Salazar.

Em 1947 instala-se definitivamente no Brasil, onde viveu até 1969. Em 1948, começa a trabalhar no Instituto Oswaldo Cruz do Rio de Janeiro, estudando entomologia, e ensinando simultaneamente na Faculdade Fluminense de Filosofia. Colabora com Jaime Cortesão na pesquisa sobre Alexandre de Gusmão. De 1952 a 1954, ensina na Universidade Federal da Paraíba (em João Pessoa (Paraíba)) e também em Pernambuco.

Em 1954, novamente com Jaime Cortesão, ajuda a organizar a Exposição do Quarto Centenário da Cidade de São Paulo. É um dos fundadores da Universidade de Santa Catarina, cria o Centro de Estudos Afro-Orientais, e ensina Filosofia do Teatro na Universidade Federal da Bahia, tornando-se em 1961 assessor para a política externa do presidente Jânio Quadros. Participou na criação da Universidade de Brasília e do seu Centro Brasileiro de Estudos Portugueses no ano de 1962 e, dois anos mais tarde, cria a Casa Paulo Dias Adorno em Cachoeira e idealiza o Museu do Atlântico Sul em Salvador (Bahia).

Regressa a Portugal em 1969, após a doença de Salazar e a sua substituição por Marcello Caetano, que deu origem a alguma abertura política e cultural do regime. Desde aí continuou a escrever e a leccionar em diversas universidades portuguesas, dirigindo o Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade Técnica de Lisboa, e no papel de consultor do Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, (actual Instituto Camões).

Em 1990, a RTP1 emitiu uma série de treze entrevistas com o professor Agostinho da Silva, denominadas Conversas Vadias. Uma outra entrevista, conduzida por António Escudeiro e chamada Agostinho por si próprio, fala sobre a sua devoção ao Espírito Santo e foi publicada pela editora Zéfiro em 2006.

Faleceu no Hospital de São Francisco Xavier, em Lisboa, no ano de 1994.

Um documentário sobre o próprio, intitulado "Agostinho da Silva: um pensamento vivo" (disponível no youtube), foi realizado por João Rodrigues Mattos e lançado pela Alfândega Filmes em 2004.

Agostinho da Silva é referenciado como um dos principais intelectuais portugueses do século XX. Da sua extensa bibliografia, destacam-se o livro Sete cartas a um jovem filósofo, publicado em 1945.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Agostinho_da_Silva

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Agostinho da Silva - Primeiro inventaram o país que queriam

http://www.youtube.com/watch?v=fhWXcVGG3nk&feature=related

 

Agostinho da Silva - A Idade do Espírito Santo

http://www.youtube.com/watch?v=LIKd6DNtHHg&feature=related

 

Agostinho da Silva - Solidão, Tolerância, Trabalho e Poesia

http://www.youtube.com/watch?v=q63Ycb8ZRec&feature=related

 

Agostinho da Silva - Europa, Japão, o Futuro e o Universo

http://www.youtube.com/watch?v=dkIspFyrPOs

Agostinho da Silva-Políticos, Escravatura e Joaquim de Fiori

http://www.youtube.com/watch?v=Yvb1Ho3xKUc&feature=related

Agostinho da Silva-Instruir,Educar,Reformados,Camões ePessoa

http://www.youtube.com/watch?v=0_GYC7JHlK8&feature=related

Agostinho da Silva, Portugal ao encontro do Brasil

http://www.youtube.com/watch?v=7rrWqHJoBBc&feature=related

Padre António Vieira e o Quinto Império

http://www.youtube.com/watch?v=s59kzDuG7ew

Um Grande Português - Agostinho da Silva

http://www.youtube.com/watch?v=YJ2Id6PnUns&feature=related

Agostinho da Silva - 5º Império e a Voz da Deusa de Camões

http://www.youtube.com/watch?v=67wTxBSPcPQ

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Mário Máximo-O sonho do Quinto Império

A filosofia portuguesa não existe sem a poesia. É uma espécie de herança que não admite

 renúncia nem utilitarismo. As riquezas de tal herança são frugais. Ou melhor, são faustas e

imensas, mas no plano da libertação interior. No plano espiritual e metafísico. Talvez no plano

 místico. Ao nível do profano são mesmo frugais, tais riquezas. Os impérios da filosofia

 portuguesa não abarcam sujeições. Talvez por isso o efectivo poder político-económico

 português tenha sido assumido de forma tão efémera e apenas num passado longínquo.

 Ou seja, que tarda em repetir-se.

Perdoem-me a heresia, mas acho que D. Sebastião teria subsidiado Luís de Camões de

 forma bem mais generosa se acaso tivesse sido ele um general de sucesso. Digo ele, Luís

de Camões. Pois que D. Sebastião foi o nosso bem conhecido general do insucesso.

D. Sebastião teria feito bem melhor a Portugal se se tivesse tornado poeta. Quis ser rei

e seguidor de sinais. Ou melhor, era esse o destino que lhe estava traçado. Eis a sua única

desculpa. Sonhou os sonhos errados e foi esse o seu legado. Por outro lado, diga-se, ser

poeta ao lado de Luís Vaz de Camões deveria ser hercúlea obra mesmo para um D. Sebastião...

Os poetas fizeram do maior desastre estratégico da nação portuguesa (e não nos esqueçamos

 que o facto de termos estado sob a sujeição de uma potência estrangeira pela única vez

desde sempre, é prova mais do que eloquente de tal estratégico desastre) a catarse da nação.

 Reescreveram o destino que D. Sebastião não soube ler. Nem podia ler. O destino só pode

ser lido por profetas ou poetas. Sendo que estes são os profetas iluminados. Camões morre

com a sujeição da Pátria. Não pode haver melhor metáfora. Nem a mísera tença real de D.

 Sebastião o matara. Matou-o a humilhação de Portugal a que conduziu o equívoco sonho de D. Sebastião

A partir de D. Sebastião passámos a encontrar-nos na saudade, na quimera, na luz

espiritualmente revelada. Não mais glórias de expansão ou de domínio terreno. Todos

perceberam que o destino de Portugal, a partir de tal desastre, só poderia ser espiritual.

SÓ? Perguntamos. SÓ? Pois é na resposta a esta questão que se colocam as grandes

 questões da filosofia portuguesa. Porque digo eu filosofia portuguesa? Bem, porque corre

 nas nossas veias o sangue da saudade, da missão ungida e da revelação. O Padre António

Vieira bem que pressentiu tal desiderato. O Padre António Vieira é um dos nossos maiores

 poetas. A sua obra é, toda ela, tocada pelo sublime da poesia. Ler O Império do Futuro é

 ler um livro que é um poema. Um poema filosófico mas cuja densidade cardíaca, ou melhor

 dito, cuja densidade de coração, ilumina todo um devir.

Claro que não é por acaso que o grande Tomás Morus, ao escrever o livro Utopia, coloca

como narrador da visão da ilha da Utopia, cuja capital é Amaurota, um marinheiro português:

 Rafael Hytlodeu. Isto significa que os portugueses eram entendidos pelo escol da inteligência

 de então como aqueles que poderiam dar novas ao mundo. Até as novas do sublime,

do milagre feito realidade, da revelação tornada quatro dimensões: as três do corpo e a quarta da alma.

Quero eu dizer com isto que o Padre António Vieira, ao formular a sinopse da História do

 Futuro, Esperanças de Portugal, e Quinto Império do Mundo estava a fazer o poema que

lhe era possível. Luís Camões concebeu a Ilha dos Amores. Sonhou-a. Tornou-a realidade

pela mão da mais delirante imaginação (Se bem que, deva ser dito que naqueles tempos

de descobrimentos de novos mundos muita coisa inverosímil foi realidade. Ao ponto de eu

perguntar se Camões não pernoitou, ao menos uma noite, na Ilha dos Amores). Mas quanto

ao Padre António Vieira ele pensou a utopia como plena realização. Não apenas quimera

sonhada. Ele profetizou-a. Aí terá sido mais poeta do que Luís de Camões. Arriscou tudo.

 Esteve nas mãos da Inquisição. A tal santa instituição que desmembrou corpos e almas

em nome de Deus. Ao estar nas mãos da inquisição ele provou que sonhava verdadeiro.

Pois apenas foram condenados pela inquisição os que estavam inocentes. Aqueles em quem

 luzia algum sonho ou a poesia ela mesma.

O Padre António Vieira fundou a ideia de Quinto Império. Não me importam, agora, os quatro

 impérios anteriores ao Quinto. Importa-me essa sensação sublime que é sentir-me parte vivente

 de um sonho maior do que uma Nação. E porque digo isto? Porque só as Nações grandes de

 coração e alma podem sonhar os sonhos que lhe são maiores.

O Padre António Vieira respeitava os povos autóctones das Terras de Vera Cruz como

 respeitava aquele povo de onde ele provinha. Tal atitude poderia levar a um Quinto Império

na terra. De facto poderia...

Hoje, a noção de Quinto Império é outra sendo a mesma. Tem outros contornos. Mas o lume

da gestação continua a ser o mesmo: o lume que acende e aquece a transcendência através

da fé suprema da poesia. Grandes pensadores falaram do Quinto Império. Mas foi o poeta

revelador, o Supra-Camões, aquele que falou de forma mais significativa. Fernando Pessoa

sabia que no conceito de Quinto Império se subsumia o destino português. O esoterismo em

 Pessoa é uma assumpção de liberdade e de missão. Cada um só é livre se, e quando, se

encontra no caminho da sua missão. E nenhum português pode abjurar a sua história. No plano

dos factos, claro. Mas sobretudo no plano super-estrutural que ilumina esses factos.

Em boa verdade, devo dizer que acredito no Culto do Espírito Santo: o primeiro profetismo e

aquele que vem do povo genuíno da fala portuguesa. Acredito na Sétima Idade, de Fernão Lopes.

 Acredito na Ilha dos Amores que Luís de Camões permite que visionemos através da sua

iluminada poesia. Acredito no Quinto Império do Padre António Vieira, bem como no Quinto

 Império de Fernando Pessoa.

O grande Agostinho da Silva, numa notável entrevista publicada postumamente (conduzida por

Antónia de Sousa) tem um lapso que não é lapso pelo simples facto de que não acontece por

 acaso: ao falar de Fernando Vieira. Junta Fernando Pessoa e António Vieira. Na verdade, eu

acho que o dossier Quinto Império tem os seus máximos expoentes nestes dois autores.

 Nestes dois profetas e poetas: António Vieira e Fernando Pessoa.

Assim se entende que o conceito de Quinto Império evolui, sendo o mesmo. António Vieira

procura-o na História do Futuro. Fernando Pessoa encontra-o na História do Passado. E é a

 esta transversalidade que irá juntar-se Luís de Camões. Luís de Camões entra neste triângulo

com a voz da intemporalidade que une os discursos de Fernando Pessoa e António Vieira.

Quando comecei as minhas palavras falei de D. Sebastião. Talvez de uma forma que tenha

surpreendido aqueles que costumam passear nos frondosos jardins sebastiânicos.

D. Sebastião não é, de todo, o meu ídolo (digamos desta forma meio brincalhona). Mas

D. Sebastião tem um papel inestimável: foi a partir dele que os portugueses passaram a

 procurar-se dentro de si próprios. Cada um tem um D. Sebastião dentro de si. E quando

cada um regressa a si mesmo é D. Sebastião que retorna por entre as brumas da alma de

 cada um. O caminho do Quinto Império talvez possa dissipar a bruma. O D. Sebastião que

 falta a cada um de nós se calhar não está longe. Talvez a bruma seja o muro que nos

separa da plenitude espiritual: aquela que nos realizará o sonho do Quinto Império.

MÁRIOMÁXIMO

http://www.triplov.com/espirito/quinto_imperio.html