Portugal Templário

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OS TEMPLÁRIOS E  A TERRA DO GRAAL  TOMAR
Escrito por um triunvirato :

Eugénio Azevedo, natural de Tomar,
Prof. António Sustelo e Prof. José Sequeira

A Ordem dos Templários, cavaleiros do Templo,  devotados  à defesa dos lugares santos da Palestina,  foi fundada em 1119  por Hugo de Payens  e mais oito  cavaleiros companheiros de Godofredo de Bulhões, totalizando o número de nove : entre os quais Godofredo de Saint – Omer e o português  Arnaldo da Rocha.

   Nove anos depois,  em 1128, a Ordem  dos Templarios  foi confirmada pelo Papa a pedido de S. Bernardo de Claraval, que lhe redigiu as regras que foram aprovadas no Concilio de Troyes no mesmo ano e lhe inculcou o seu  espirito, tendo para tal  escrito  um livro em louvor dos Templários.

     Esta foi a única Ordem fundada, não com o intuito de auxiliar peregrinos e doentes, mas sim para combater de imediato os infiéis. Nos seus documentos oficiais designam-se com « Fratres militiae Templi ou Pauperes commilitones Christi Templique Salomonis » O rei de Jerusalém Balduino II oferece-lhes  para a sua sede uma ala do seu palacio situado na Mesquita El-Aksa, construida no lugar  onde se situara o antigo  Templo de Salomão, de onde tiraram o nome.

 A Ordem compreendia quatro classes : Os cavaleiros, os escudeiros, os irmãos leigos e os capelães e sacerdotes (chefes militares, sargentos, sodados, clérigos). Juravam consagrar a sua vida ao serviço de Deus, defender no temporal a fé cristã e os lugares santos e combater os seus inimigos, fazendo votos de pobreza, obediencia e castidade.

 O santo abade Bernardo de Claraval descreve-os como « monges – cavaleiros de Deus » vivendo numa sociedade frugal, sem mulheres, sem filhos, sem terem nada de próprio. Nunca estão ociosos, nem espalhados fora das suas casas ; quando não estão em campanha contra o infiéis, reparam as vestes, armas e os arreios dos cavalos, ou estão ocupados em exercícios piedosos. Detestam os jogos, não se permitem caçar e banham-se raras vezes; andam negligentemente vestidos com a cara queimada pelo sol.

 Para o combate armam-se por dentro de fé e por fora de ferro, sem qualquer espécie de ornato e tendo as armas como único enfeite. Toda a sua confiança está no deus dos exércitos e, combatendo pela sua causa procuram uma vitória certa ou uma morte  santa  e  honrosa.

 OS TEMPLÁRIOS DA PALESTINA E CHIPRE  VÃO  PARA  A PENÍNSULA IBÉRICA

 Enquanto viveram na Palestina, houve sempre uma rivalidade entre os Templários e os Hospitalários, que não poucas vezes se traduziu em  lutas armadas que muito enfaqueceram as posições cristãs na Terra Santa. Após a queda de S. João de Acra  em 1291 ambas as Ordens transferiram-se para Chipre que  Ricardo Coração de Leão tinha dado ao rei de Jerusalém. Essa rivalidade prolongou-se até à extinção da Ordem dos Templários pelo Papa Clemente V a instancias do rei de França Filipe o belo. Mas enquanto os Cavaleiros do Hospital se conservavam no Mediterrâneo Oriental, os Templários, na linha da sua missão universal expandiram as suas implantações no Ocidente da Europa. Os seus templos constituiam verdadeiras fortalezas, inexpugnaveis,  que subsistem ainda hoje em Portugal.

PORTUGAL PAÍS TEMPLÁRIO

Foi principalmente na Penísula Hispânica, e em particular em Portugal, nas campanhas de reconquista contra os mouros, que os  Templários mantiveram a sua accão de luta pela propagação da fé cristã.  Como  em França e na Inglaterra não tinham as mesmas condições  dedicaram-se sobretudo à  actividade financeira, o que os tornou odiosamente vítimas da inveja dos grandes senhores feudais e mesmo de reis.  Para tal, contornavam as disposiões da igreja  que proibiam os cristãos de exercer tal actividade.

 Foram até banqueiros do Papa, de  reis, de  príncipes e de particulares. O seu grande poderio financeiro pô-los mais tarde em conflito  com a maioria dos soberanos, ao  pretenderem  estes defender os seus interesses  e  dos seus vassalos, que com jactância cobiçavam as suas riquezas, denunciavam públicamente  às mais altas instâncias eclesiásticas, a duvidosa origem lícita dos  bens dos Templários. Por assim dizer, eram  um estado dentro doutro estado, que originavam   muitas vezes graves perturbações de prosperidade económica no entender  dos ditos soberanos.

Os Templários na Península Ibérica tiveram uma actuação benemérita que foi reconhecida e recompensada pelos reis com benefícios importantes. Estavam isentos de impostos e da jurisdição episcopal como os censos  eclesiásticos gerais.  Ao contrário do que ocorria em França e na Inglaterra, na Península Ibérica os reis concediam-lhes  privilégios e doações de territórios muitos dos quais situados nas fronteiras, de preferência em zona de combate e de vanguarda cristã contra os mouros.

O NOBRE CRUZADO BORGONHÊS HENRIQUE FUNDA A DINASTIA TEMPLÁRIA DO CONDADO  ‘’PORTUGALENSIS ‘’

Sabe-se que os condes borgonheses D. Henrique e D. Raimundo chegaram à Península Ibérica nos finais do século XI  a convite de  Afonso VI de Leão e Castela, como fronteiros e em espírito de cruzada para o auxiliar na defesa e na reconquista contra os almorávidas.

O Conde D.Henrique, 4° filho de Henrique de Borgonha, bisneto de Roberto I de França, irmão dos duques Hugo e Eudes de Borgonha, e sobrinho-neto de S. Hugo, abade de Cluny, foi  no seu tempo na Península um dos representantes mais activos do espírito europeu da época.

 É natural que os reis de França quisessem que os duques de Borgonha concretizassem a sua vassalagem, e como em teoria eram sujeitos da coroa, fruiam de uma independência que não era vista com bons olhos pelos reis de França.

 Revelada a expansão do Catarismo no Languedoc que se estendeu  pela  Borgonha, Provença, e por Aragão,  os borgonheses viram-se envolvidos nas campanhas albigenses.

 D. Henrique, como cruzado foi  atraído por  zonas de combate contra os infiéis  e quis  ligar à Terra Santa a sua posição de fronteiro do Ocidente.

Tendo  acompanhado o  seu primo Raimundo na Cruzada contra os sarracenos,  visita na Península Ibérica a sua tia a raínha Constança de Leão, tendo sido  convidado pelo rei  leonês Afonso VI  a ajudá-lo no combate  aos infiéis no condado  Portugalensis - Portus-Calixis – o mesmo que Porto Graal ou Portugal, nome proveniente do Cálice sagrado, um dos símbolos páleo–cristãos particularmente venerado pelos Cátaros e pelos Cavaleiros Templários.

 Para compensar D. Henrique dos serviços prestados na sua luta contra os mouros, o rei Afonso VI,  no ano de  1095  dá-lhe em casamento  a sua filha D. Tareja, oferecendo  como dote o  ‘fronteiro’ condado Portugalensis, integrado nos estados do rei de Leão,  no que restava da antiga Lusitânia. Este condado surge em meados do século IX  abrangendo ao norte o Alto Minho,  para o oriente a hoje província de Trás-os-Montes, Douro, e Coimbra. O distrito de Coimbra abrangia o Douro,  Mondego, até ao Tejo ;  no ano de 1097 D. Henrique dominava o território do Minho a Santarém.

 Os sucessos militares ocorridos na primavera de 1095 moveram Afonso VI a acentuar mais a separação  do condado portugalensis dos  outros territórios peninsulares, sem a qual era mais difícil continuar a  fazer a guerra na fronteira com os sarracenos.

  Segundo o testemunho da Crónica Lusitana, muitos franceses tinham passado os Pirenéus para participar na batalha de Zalaca, e ainda depois desta.

Nada indica que o Conde D. Henrique tivesse abraçado a doutrina cátara, mas decerto como Bolonhês perfilharia as razões da luta do Languedoc contra as hordas capetianas, e condenaria  as medidas repressivas tomadas pela Cúria Romana. Foi ‘cruzado’ e em Jerusalém contactara com os Templários a quem tinham sido revelados os princípios da religião ‘dualista’, com origem na antiga doutrina de Zoroastro.

 A primeira referência a D. Henrique é de 1072, (Chartes de Cluny) e em 1082 num documento de Molesme é considerado ‘puer’. Na data do seu casamento em 1095 andaria pelos seus 30 anos de idade, pelo que se conclui que deveria ter nascido em 1065. Usava o manto de Cruzado pelo que se supõe ter estado na Terra Santa, e é entre estas duas datas que se  dintingue na fronteira sudoeste  da Península Ibérica contra os almorávidas. Formou a sua corte de fidalgos, artistas e sábios predominantemente borgonhesca e provençal, que continuou durante a dinastia  de seu filho o rei Afonso Henriques.

 Ao casar  a sua filha Tareja (Teresa) com Henrique, Afonso VI não se limitou a entregar-lhe  governo do condado portugalensis, com a qual já frequentemente se confunde o distrito coimbriense e o de Santarém debaixo desse nome comum. As propriedades regalengas, isto é, do património do rei e da coroa, passaram a ser possuídas como bens próprios e heriditários da coroa.  É a estes bens que  parece que se refere  a célebre passagem da crónica de Afonso VII falando de Tareja « dedit maritatam Enrico camiti, et dotavit eam magnifice dans portugralesem terra juce heriditaria ».

 Note-se a coincidencia de algumas datas significativas :

 1115 – Fundação por D. Hugo, Conde de Troyes, do Mosteiro de Claraval, de que o Primeiro Abade foi S. Bernardo de Claraval.

1119 -  Fundação da Ordem dos Templarios ou Ordem da Cavalaria do Templo de Salomão por Hugo de Payens.

 1124 – No dia do seu aniversàrio natalício, dia consagrado ao Espírito Santo, D. Afonso Henriques, tendo envergado ele próprio as suas vestes de guerreiro, como era atributo  das pessoas reais, foi armado cavaleiro ao pé do altar da igreja de S. Salvador, em Zamora.

 1126 – Primeira doação aos Templários em Portugal : Fonte Arcada.

 1128 – Doação aos Templários, também por D. Teresa, do Castelo de Soure e das terras entre Leiria e Coimbra. Confirmação da Ordem dos Templários no Concilio de Troyes.

1128 – Vitória do Infante D. Afonso Henriques sobre a sua mãe na batalha de São Mamede.

 1131 – Redação definitiva, por S. Bernardo de Claraval, da Regra  Templários.

 1140 – Vitoria de D. Afonso Henriques sobre os mouros na batalha de Ourique.

1143 – Reconhecimento do título de Rex, usado por D. Afonso Henriques, com o apoio do Papa Eugénio III, que fora disciplo de Bernardo de Claraval. O Mosteiro de S. João de Tarouca passa à obediência de Claraval, seguido dos Mosteiros de Lafões, Salzedas, Sever, Fiães, S.  Pedro das Aguias.

 1147 – Conquista, por D. Afonso Henriques, de Santarém e de Lisboa. Cedência aos Templarios das posseções e dos rendimentos das igrejas de Santarém.

 1153 – Fundação do Convento de Santa Maria de Alcobaça, que passa a ser a cabeça e o centro espiritual e intelectual dos Cisterciences em Portugal, sob a jurisdição de Claraval.

 1157- Concessão aos Templáros, por D. Afonso Henriques, de privilégios extraordinários: inviolabilidade de propriedades e de pessoas; isenção de tributo e de serviços; isenção de portagens; isenção de pagamento do dizimo dos terrenos que eles próprios cultivavam ou mandavam cultivar à sua custa ; os Templários não podiam ser capturados, nem se lhe podia exigir penalidades por crimes cometidos, sendo os pleitos decididos pele sentença de « homens bons ».

 1158 – Tomada de Alcácer do Sal. Gualdim Pais é investido  6° Mestre dos Templários portugueses.

 1159 – Doação aos  Templários do vasto território de Cêras.

 1160 -  Construção, neste território, do Castelo de Tomar, com a sua igreja e Charola, projecção  arquitectónica da Cruz Templária, a Cruz das oito beatitudes.

 1185 – Morte de Gualdim Pais, o Mestre que mais consolidou os dominios Templários em Portugal, os quais possuíam  nessa altura os Castelos de Tomar, Almourol, Zêzere, Pombal, Idanha-a- Velha, Cêras, Cardiga, Sousa e Monsanto, entre outros, além de muitas propriedades em Lisboa, Sintra, Santarém, Leiria, Évora e Beja.

 Este sincronismo de datas indica perfeitamente a realidade histórica : durante a soberania do Conde D. Henrique o territorio está sujeito ao Mosteiro de Cluny ; depois de D. Afonso Henriques é com o apoio moral e religioso dos Cisterciences e com o auxílio decisivo dos Templários que se faz a  conquista, a  ocupação  e a cristianização do território português.

A independencia de Portugal é pois marcada e qualificada pela convergência  da aliança borgonhesa - lusitana e do espirito cristão, segundo o ideal Cistercience e Templário, sob o magistério de S. Bernardo de Claraval.

 É no triângulo Guimarães / Braga, Tomar e Alcobaça que assenta a nova nação europeia. O 1° rei de Portugal é um cavaleiro templário, o que explica a sua total identificação com a Ordem. Portugal será a ponta de lança afiada contra o Islão ao mesmo tempo que o espaço exemplar de um pais missionado.

 Um reino cristão concebido e espiritualmente organizado, desde a origem, segundo os principios do  cristianismo trinitarista, ético, cruzado e apostólico de idealidade cavalheiresca, mariana e bernardina.

 Nesse sentido, a grande nave despojada de Alcobaça e a charola octogonal do Convento de Cristo em Tomar simbolizam  vizivelmente a dupla consagração das palavras de Cristo a D. Afonso Henriques antes  da batalha de Ourique, que constituem uma revelação prémonitória de toda a vocação da história de Portugal.

 O ímpeto cruzado e templário de D. Afonso Henriques, não só conduziria à conquista total do território português, como levaria a Cruz de Cristo aos confins da África, à Índia, ao Extremo Oriente e às Américas :

                «  Porque eu sou o fundador e o distribuidor dos impérios do mundo, e em ti , e a tua geração,  quero fundar para mim um reino, para cuja  indústria será meu nome notificado a gentes estranhas »

                        Frei Bernardo de Brito na Crònica de Cister

 O SANJOANISMO, O TEMPLARISMO, E O GRAALISMO – CONCESSÕES E  POSSESSÕES

 Nesse tempo verificava-se um elo espiritual entre o Sanjoanismo (doutrina do Evangelho de S. João), o Templarismo e o Graalismo; ou seja, a devoção ao Espírito Santo (Divino Parácleto) e a S. Bernardo de Claraval. A própria arquitectura do Convento de Tomar reflete-nos essa mesma confluência do Templo de Salomão, do Mosteiro de Caraval, e da Demanda do Santo Graal.

  Roma sempre suspeitou de  desvios da ortodoxia por parte dos nobres cavaleiros portugalensis que considerava « Terra dos Templários » (Tempreiros) apesar desta ter sido extinta no resto da Europa, e ter-se prolongado no seio da Ordem de Cristo.

  Assim, a Cúria Romana criou durante séculos dificuldades e decisões injustas na arbritagem de pleitos ao reino de Portugal. E durante séculos até ao último rei português, desde o filho bastardo do rei Afonso Henriques que foi Grão-Mestre não da ‘’Ordem do Templo ‘’ mas da ‘’religião de São João’’ conforme se indica na lápide do seu túmulo na Igreja de São João do Alporão em Santarém,  imbuída na devoção ao Espírito Santo, passando pelos rei D. Dinis e Isabel que foram os repropulsores do culto do Espírito Santo.

 O Conde D. Henrique nunca deixou de fazer viagens à Síria e à Terra Santa em Cruzadas. E como Cruzado morreu em 1112, na terra que  tinha libertado dos infiéis. Seu filho, D. Afonso Henriques escolheria a Cruz de Cristo das Cruzadas de seu pai e templária  como símbolos do escudo de armas que imortalizou na bandeira portuguesa.

 Após a morte de D. Henrique a sua viuva D. Tareja concede à Ordem do Templo por foral de 1128 os castelos de Soure e Alpreade, e também a terra deserta e despovoada, entre Coimbra e Leiria.

 Afonso Henriques 1° rei de Portugal na sua Cruzada Ibérica para expulsar os mouros da Península e alargar o seu território, fê-lo muita vêz com os cavaleiros da Ordem do Templo e o seu Mestre Gualdim Pais.

  Em 1153 o rei D. Afonso funda o Mosteiro de Alcobaça para a Ordem de Cister, que ele chamara a Portugal com o apoio do próprio São Bernardo de Claraval, estando presente um dos seus militantes Pedro Henrique, filho do Conde D. Henrique e meio irmão de D. Afonso.

  Em  1159 em recompensa pelos seus feitos de armas é-lhes dado pelo rei o castelo de Cêra ; em 1160 os Templários conquistam para o reino a cidade de Tomar, entregando-lhes as terras do rio Nabão que os mouros chamaram Tomah, onde Mestre Gualdim Pais viria a construir 10 anos mais tarde num morro sobranceiro ao rio Nabão, o castelo para a sede da Ordem, e mais um terço de todo o território que pudessem conquistar a sul do Tejo ; mais as  possessões e os castelos de Castro-Marim, Almourol  e  Pombal.

     Na França, os Templários assentaram em Paris, e como as finanças do Estado françês se tivessem esgotado, o rei para resolver o seu problema económico, sobrecarregava o povo de impostos. Dessa maneira começaram a odiar o monarca e a manifestar admiração pela Ordem dos Templários cujo  poder de compra enriquecia mercadores e artífices  cristãos e judeus, e em cujas terras ferteis empregavam braços de muitas famílias rurais.

 O TEMPLO DE CRISTO E O GRAAL

 Se na sua primeira fase a acção templária em Portugal foi principalmente de combate, no apoio a D. Afonso Henriques e na luta contra os mouros, terá sido a partir de 1160, com a construção do Castelo e da Igreja de Tomar, que iniciou a sua fase por assim dizer espiritual.

 Gualdim Pais era um velho companheiro de D. Afonso Henriques, que aos 21 anos tomara parte na batalha de Ourique, onde foi armado cavaleiro. Pouco depois, partiu como cruzado para a Palestina, onde permaneceu cinco anos e onde se distinguiu em várias batalhas. Foi na Palestina que ingressou na Ordem do Templo, sendo de crer que os seus feitos e a sua personalidade o tenham elevado até à mais alta hierarquia. Aí foi certamente iniciado na doutrina joanina da Ordem, tendo aí compreendido que a acção dos monges cavaleiros de Deus visava muito mais do que a defesa física dos lugares santos.

 Ao regressar a Portugal, está compenetrado da missão que lhe cabe, se é que dela não foi conscientemente incumbido. Em 1158 foi investido no cargo de 6° Mestre da Ordem Templária portuguesa.

 Pouco depois, a 1 de Março de 1160,  D. Gualdim Pais lança os fundamentos do Castelo de Tomar, que será a  Sede dos Templários.

 O templo que foi construído não tem, na sua forma, tradição conhecida em Portugal. É um templo octogonal, tendo no interior uma capela igualmente octogonal, quase circular pela disposição dos pilares, no centro da qual está o altar.

 Havia primitivamente uma única porta, que dava directamente para o Convento, sendo a única serventia dos cavaleiros.

 Tal como outras igrejas templárias, teve por modelo a igreja do Santo Sepulcro de Jerusalém.

 As colunas que sustentam a cobertura, marcando o espaço da capela interior são encimados por capitèis de inspiração orientalista ou fitomórfica, tendo um deles, hoje  voltado para a nave aberta por D. Manuel I, a cruz templária gravada e realçada a vermelho.

 Nas cerimónias litúrgicas ou quando em oração, os templários dispunham-se em circulo, segundo o arquétipo dos cavaleiros da Távola Redonda, buscadores do Graal.

 A charola de Tomar forma como que um circulo, sendo o central,  o do altar, da mesa ou da távola, em redor do qual se alinhavam os cavaleiros; é uma tavola redonda.

 Tendo em conta a relativa exiguidade da igreja, constituida por dois octógonos concentricos, tendendo à circulatura, fácilmente se reconhece estarmos em presença de um templo que não foi concebido para multidões, mas para um pequeno número de cavaleiros-monges admitidos na Ordem, ou seja, um templo iniciático. Esta disposição reforçava as ideias de eleição, de escolha e de missão essenciais à vivencia destes cavaleiros que, como os do rei Artur    «  deixam os seus país, parentes, esposas e filhos para seguir a Ordem ».

 Como se sabe, nos romances da Demanda do Santo Graal, os templários são os guardiões do Graal, que usavam uma cuz vermelha sobre uma túnica branca ou uma veste branca com uma cruz vermelha ao peito.

 O Graal é o cálice com o sangue de Cristo que foi trazido para a Europa por José de Arimatéia. 

Cavaleiros do Graal que,  segundo as narrativas da época  ( ciclo de Robert de Boron e Wolfram von Eschenbach ) procuravam lugares e domicílios desconhecidos para guardar o Santo Graal,  navegando em barcos de velas brancas com uma cruz vermelha que prenunciam as futuras caravelas portuguesas,  com a Cruz de Cristo.

 A EXCOMUNHÃO DE FILIPE IV O BELO PELO PAPA BONIFACIO VIII, E O APOIO DOS TEMPLÁRIOS Á AUTORIDADE PAPAL ESTÁ  NA ORIGEM DA SUA DISSOLUCÃO.

 Neste período,  o rei de França Filipe IV ‘o belo’ entrou em conflito  com o Papa Bonifácio VIII que decidiu excomungá-lo, tendo o rei francês reagido com a convocação dos ‘’Estados Gerais’’ na qual se decretou em 1302 que a Coroa francesa não reconhecia a autoridade do Papa. Sucedeu-lhe Bento XI, logo falecido em 1304, sendo o trono papal ocupado por Clemente V.

 Os Templários tinham apoiado o Papa Bonifácio  e esta atitude exarcebou de tal modo Filipe IV que vendo simultâneamente extinguir-se o prazo para a solvência da sua enorme dívida que tinha para com os templários, e desejoso de se apoderar das suas imensas riquezas, aproveitou todas as lendas que se tinham acumulado contra  eles, acentuou mais a campanha extremamente violenta que nos fins do século XIII tinha desencadeado contra a Ordem do Templo, decidiu aniquilar a Ordem que reunindo com o Bispo de Bolonha e concertando uma cláusula secreta que seria imposta a Clemente V  que o rei tinha conseguido pôr  no trono Papal.

 Foram acusados de numerosos crimes ; lesa-majestade, usura, heresia, costumes depravados  etc.

  É provável que a sua longa estância no Próximo Oriente tivesse tido alguma influência na pureza da sua fé, mas a acusações divulgadas e instigadas por Filipe ‘o belo’ fizeram que o Papa,  de conivência com o rei, decidisse extinguir a Ordem  no Concílio de Viena do Delfinado (1311).

Mas a principal  razão da perseguição de que foram objecto reside no poder que os Templários tinham. Poder politico e financeiro.

 Ao nível político os Templários tinham um plano de governo mundial, através de uma federação de Estados autonomos, sob a direçcão de dois chefes supremos, um espiritual, o Papa, o outro politico, o Imperador. Tendo ao seu serviço a Milícia do Templo.

 Este plano far-se-ia sobre a reconciliação e a cooperação das três religiões monoteistas herdeiras da tradição biblica : cristãos, muçulmanos e judeus.

 Esta concepção ecuménica revela-se,  por exemplo,  nas enigmáticas relações dos Templários com os ismaelitas da Palestina, em especial com a organização secreta dos Assaci, chefiados pelo Cheick el  Djebel, o Velho da Montanha e sobretudo pela existência de Sinagogas judaicas em areas de influência templária, sendo aí o seu culto protegido, como é o caso da Sinagoga de Tomar, uma das poucas conservadas e intactas em Portugal.

Estes factos constaram das acusações de Filipe o Belo e de Clemente V, muito embora o seu significado houvesse sido para tal intencionalmente deturpado. 

A ATITUDE DOS REIS PENINSULARES, SOBRETUDO A DO REI DE PORTUGAL NA PROTECCÃO  DOS MEMBROS DA ‘’ORDEM’’.

 Avisados os reis da Península para irem a esse concílio, alguns deles se fizeram representar, menos o rei de Portugal, que  fêz saber  que nunca tivera motivos de queixa dos Templários, e graças a eles combatera os infiéis alargando e prosperando o País.

Para evitar que fossem perseguidos, e ao mesmo tempo como o Papa pretendia dispor dos bens da Ordem por esta lhe estar directamente subordinada, os reis de Portugal, Castela  e Aragão, para obstar à  sua alienação, alegaram que esses bens tenham sido outorgados  com o intuito de favorecer a sua acção missionária. Por esse motivo desaparecendo a Ordem, desaparecia a causa da doação devendo os bens regressar à Coroa.

 Seja como for, parece demonstrado que o Papa acreditou, nomeando comissões de inquérito, cujas conclusões não foram definitivas, mas que levaram à extinção da Ordem. Daí  conclui-se a atroz cumplicidade  do Papa com Filipe IV, que doravante tinha condições de foro jurídico-eclesiástico para prender,  julgar e condenar à fogueira o Grão-Mestre Jacques Molay  e todos os cavaleiros que se encontravam em França.

 Filipe ‘o belo’ pouco tempo viveu após a sentença condenatória dos Templários  e teve uma morte atroz, transportando através de gerações a maldição que o Grão-Mestre lhe lançou quando morria na fogueira.

 O rei francês  não conseguiu eliminar a Ordem do Templo porque com a vinda dos templários franceses para o seu  PortoGraal a Ordem tornou-se mais forte, desenvolveu-se, expandiu-se pelos 4 cantos do mundo deixando a sua presença na arquitectura, nas ciências, nas artes, e com os seus códigos foi missionáriamente implantada em todos os continentes  do mundo.

 OPERACÃO DE FACHADA NA ORDEM DO TEMPLO REALIZADA PELO REI    D. DINIS.

IGREJAS CIRCULARES E OCTOGONAIS QUE OS ‘’TEMPLÁRIOS PORTUGUESES ‘’CAVALEIROS DA ORDEM DE CRISTO’’ IMPLANTARAM NO MUNDO

 Com a metamorfose dos Cavaleiros do Templo em Cavaleiros da Ordem de Cristo o estandarte albi-negro dos Templários, que o acusador françês Guillaume de Nogaret malignamente denunciara como símbolo dualista do Reino da Luz e do reino das Trevas, Deus e Bafomé, é substituida pela cruz vermelha sempre de identificação templária com a qual os portugueses levariam a  mensagem na descoberta do mundo.

Como é notório e histórico, o rei português D. Dinis cuja casa real e base da nobreza,  assim como grande parte da população eram formados por templários, cátaros, e judeus, (os  qual  os havia  até na Ordem) que desde a fundação da nacionalidade vieram com o conde D. Henrique, popularam e constituiram  a maior parte  da região, mudou-lhes o nome para ‘’Cavaleiros da Ordem de Cristo’’ evitando assim a perseguição às componentes templárias- cátaras – judias da Ordem.  A ‘’Ordem’’ continuou através dos séculos levando a Cruz de Cristo de um outro Henrique Infante, Grão-Mestre da Ordem  (Templária) de Cristo por entre terras e mares desconhecidos,  evangelizando, gentes na infância da civilização, guerreando o islão, e levando messiânicamente o Espírito Santo mensageiro a toda a parte, desenvolvendo e colocando Portog(ra)al no cume das nações, casta de valores fundidos no universo.

  No acesso  à  Ordem entravam os que tivessem ganho ‘’Gentileza’’ condição  primordial para ser Cavaleiro. Nas ‘Ordenações  Afonsinas’ mandadas reunir por D. Afonso V, definia-se a entrada para a Ordem de Cavalaria, o 1° grau da nobreza dizendo ‘’ esta Gentileza vem de três maneiras : a primeira por linhagem, (origem familiar) ; a segunda por Saber ; a terceira por bondade ; bons costumes e habilidade.

 O saber e a habilidade levaram também muitos judeus conversos à Gentileza e à  Cavalaria do mar (cavaleiros – navegadores).

Na primeira igreja do Castelo de Tomar encontra-se a rotunda poligonal, o mais belo espécime de arte síria de todo o Ocidente. Em Newport (USA) depara-se uma torre com 8 arcos (templária) de construção do século XV, levada e construida pelos portugueses, nomeadamente o navegador Miguel Corte-Real, Cavaleiro da Ordem de Cristo (versus do Templo) com a mensagem arquitectorial cristo-templária análoga à Charola do Convento de Tomar ou Altar-mor. A parte extrema é redonda, e a parte interna é octogonal com 8 arcos e foi construída à semelhança do Santo Sepulcro em Jerusalém.

Os Templários portugueses inspirados nas igrejas circulares e octogonais que viram no Próximo Oriente durante as cruzadas, nomeadamente o Santo Sepulcro, lugar onde Cristo morreu, construiram 7 castelos no mesmo estilo : Almourol, Idanha, Monsanto, Pombal, Zêzere, Cêra, Castro-Marim, e Tomar.

 O castelo de Tomar é o protótipo das rotundas octogonais portuguesas com 8 arcos. Tem uma parte exterior circular que termina em torre de vigia. Durante o período dos descobrimentos os portugueses usaram o mesmo método para construir mais de 150 castelos e igrejas na África, na Ásia e no Brasil. Nenhum país da Europa construiu em tantas terras distantes mais igrejas e castelos com torres circulares e octogonais do que Portugal. De facto a bandeira portuguesa é a única no mundo que tem castelos. E os arcos templários destes castelos assemelham-se ao de Newport nos EUA.

 Como os Templáros contavam a Ordem em 4 graus : Como os Templários juravam manter segredo absoluto de tudo quanto viam e ouviam : Como osTemplários eram igualmente ajuramentados. Com D. João II intensificar-se-ia  a divisa templária ‘’Sigillum Militum Christi’’ «  Política de Sigilo ».

 Sábios, navegadores, e descobridores, e muitos outros foram irmãos da Ordem de Cristo. Mas não só a cavaleiros e marinheiros era permitido pertencer à Ordem. Também se achavam ligados a ela matemáticos, cartógrafos e médicos, e entre eles  havia-os de ascendência judaica.

Pela história, pela arqueologia, pela epigrafia, e genética, ciências exactas, prova-se que tesouros, do que restou, e particularmente o Santo Graal,  que velado ‘através do Tempo’ encontra-se sigilosamente guardado  na terra Portusgalensis, nome proveniente do Cálice Sagrado  que o acolheu : Portus Calixis – o mesmo que Porto Graal.

 Graal que,  segundo a memória  colectiva das gentes portuguesas, terá sido guardado  algures ‘’ no Altar-mor ‘’ do Convento de Cristo  de  Tomar. 

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Apresento o início do livro Os Templários, de Michel Lamy, que foi de grande ajuda em minhas pesquisas nos trabalhos de inspiração medieval, A Rosa e a Cruz e Persifal. Não à toa neste último um dos personagens principais se chama Gondemar, que irão descobrir quem foi logo abaixo. Deixo o trecho inicial e os que se interessarem poderão continuar a leitura adquirindo o livro ou pelo scribd. O link está no final desta página.



NOTA DO EDITOR PORTUGUÊS



Não se sabe ao certo se, entre os primeiros nove templários que foram a Jerusalém, um deles seria do Condado Portucalense: Gondomar (ou Gondemar?). Mas supõe-se que a presença da Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo (mais tarde denominada por Ordem do Templo) em Portugal data de 1126, e sabe-se que os Templários estavam solidamente implantados no país em 1157, quando foi nomeado Grão-Mestre Gualdim Pais, figura emblemática que comandou a reconquista de Santarém e Lisboa, ao lado de Martim Moniz. Em 1128, D. Teresa concedeu-lhes o castelo de Soure, e como recompensa dos seus feitos guerreiros, D. Afonso Henriques outorgar-lhes-á a cidade de Tomar, bem como as terras compreendidas entre Tomar e Santarém. Foi assim que o castelo de Almourol, contemplando todo o Tejo, entrou na posse da Ordem.

É também certo que a decisão papal de extinguir a Ordem não seria bem acolhida e, em 1311, D. Dinis ordenou o levantamento de um processo, que decorreu em Salamanca, para averiguar a culpabilidade dos templários da Península Ibérica. Os templários portugueses seriam ilibados. Logo depois, D. Dinis enviou ao papa João XXII dois emissários para negociarem o renascimento da Ordem do Templo. Surgiu a Ordem de Cristo, de que foi investido Grão-Mestre Gil Martins (em 15 de Março de 1319), e cujos cavaleiros usavam um hábito idêntico ao dos templários: apenas uma cruz branca inscrita dentro da cruz vermelha (para assinalar a pureza da instituição ressurgida) os distinguia. Os dignatários do Templo conservaram os seus lugares na nova Ordem, que alojou também muitos templários refugiados, de França e outras nações europeias.

É em Tomar que encontramos uma maior concentração de bastiões da Ordem, contributos inestimáveis para o nosso patrimônio arquitetônico. E o caso do castelo de Tomar (também chamado dos Templários), que estaria unido por passagens subterrâneas à Igreja de São João Baptista (santo venerado pela Ordem, que nos seus templos e capelas conta com inúmeras representações de baphomets - cabeças degoladas) e à Igreja de Santa Maria do Olival, onde Gualdim Pais foi sepultado. O seu túmulo, ao que se sabe, está vazio - mais um enigma para a constelação dos mistérios do Templo.

A arte gótica, segundo Michel Lamy, terá sido introduzida pelos Templários, que se associaram a mesteirais cagots, possuidores de segredos de construção e dos trabalhos em pedra (possíveis antecessores dos «pedreiros-livres» ou franco-mações). O estilo manuelino será, em Portugal, o herdeiro direto do gótico e o seu grande expoente é o Convento de Cristo, cripta da Ordem de Cristo, após se ter instalado por alguns anos em Castro Marim e ter regressado à original sede do Templo. Na charola do Convento de Cristo encontramos a disposição octogonal, fiel à cosmologia da época e representando o hemisfério celeste. Os Templários, e os seus herdeiros Cavaleiros de Cristo, teriam desenvolvido os conhecimentos de astrologia e astronomia (as duas ciências, como se sabe, eram indissociáveis) que lhes serviram para iniciar a aventura dos Descobrimentos. A esfera armilar, na famosa Janela do Capítulo, lá está para nos lembrar o papel dos Cavaleiros nas Descobertas, assim como o ângulo de 34º que encontramos nos vértices das fachadas das capelas góticas, que será o ângulo que a constelação de Cão Maior faz com a Taça (Graal) e com Leão, conforme representado no baixo-relevo da Igreja de São João Baptista. Esta estará ainda ligada por subterrâneos a um outro monumento de Tomar, o Convento de Santa Iria, onde se observa um boi esculpido na pedra (Constelação do Boieiro), herança visigótica de que a Ordem do Templo se terá apropriado. No plano arquitetônico, há também que realçar o «olho de boi» sobre a Janela do Capítulo, de que se diz indicar a direção do ovo alquímico, que serviria para a transmutação do metal em ouro e que, juntamente com a carga trazida das viagens marítimas à Terra Nova, seria a explicação do tesouro templário, misteriosamente desaparecido e talvez depositado em...Tomar.

Podemos não dar crédito a todas estas suposições (ao ponto de nos parecer, lendo as obras dos que investigaram os «segredos» dos Templários, que a Ordem seria uma espécie de súmula das mais variadas e díspares esotéricas de todo o Mundo, sendo quase impossível encontrar um fio de coerência). Mas parece inegável que os Templários e a Ordem de Cristo desempenharam um papel fundamental nos Descobrimentos Portugueses. Diz-se de D. Dinis, o grande defensor da continuação da Ordem, que estaria «iniciado» nos segredos templários... E não foi ele o «plantador de naus a haver», segundo a Mensagem de Fernando Pessoa, último Cavaleiro de Rosa-Cruz, essa Ordem da cruz mística que muitos julgam herdeira dos Templários?

O grande impulsionador das Descobertas foi D. João, mestre de Avis, e sabemos que a Ordem de Avis estava intimamente ligada a Calatrava e, portanto, ao Templo. Assim, também, as primeiras caravelas ostentavam o pavilhão da Cruz de Cristo, e o Infante D. Henrique, se não era Mestre, era pelo menos governador da Ordem de Cristo. Finalmente, e sem esgotar os grandes nomes da história nacional que estariam ligados a uma pretensa «missão templária», o último rei de Avis foi D. Sebastião, o Desejado, dominado pelo sonho megalômano do Império «onde nunca o Sol se põe» (era, indiscutivelmente, objectivo dos Templários ligar ao Ocidente o Oriente). E foi D. Sebastião que ordenou ao Dr. Pedro Álvares que escrevesse a história da Ordem de Cristo, Compilação das Escrituras da Ordem de Cristo, ordenada por Alvará d’El Rei D. Sebastião, de 16 de Dezembro de 1560. Nesta obra, em vários volumes, conta-se «que a Igreja de Santa Maria do Olival era a única paroquial Igreja de toda a terra de Thomar e Ceras e que o vigairo dela era representado pelo Mestre e Convento sem instituição nem autoridade doutrem», «que a Ordem de Cristo se pode chamar a Ordem do Verdadeiro Templo», e que «parece que o dito Infante D. Henrique soube do tempo da sua morte e como se preparou para ela», entre outras várias «histórias» que valerá a pena esmiuçar-se se se quiser traçar o percurso dos Templários em Portugal, que parece ser indissociável da consolidação e afirmação da nossa nacionalidade.

Vemos, pois, que Portugal esteve decisivamente envolvido na implantação e preservação da Ordem do Templo, o que Michel Lamy deixa entrever na sua obra.

Esta nota e a documentação iconográfica selecionada para ilustrar a obra, pretendem fornecer algumas pistas para quem deseje prosseguir um estudo sobre a ação dos Templários em Portugal.



ADVERTÊNCIA



A história da Ordem do Templo é um terreno escorregadio que provoca desconfianças aos universitários atuais. Demasiado enigmático, demasiado ligado ao esoterismo para não desagradar aos apoiantes da escola quantitativista, suscita muito poucas vocações em comparação com o que aconteceu outrora. No entanto, deu origem, ao longo dos tempos, a inúmeras obras de qualidade. Investigadores de todos os horizontes tentaram compreendê-la, contribuindo com a luz que era própria da sua formação ou do seu empenhamento político.

Por que razão acrescentar mais um livro aos milhares já publicados em todo o mundo e que estudam pormenorizadamente a vida dos cavaleiros do Templo nas suas Comendas, as operações militares que realizaram, a sucessão dos seus Grão-Mestres, a sua alimentação, as suas armas, etc.?

Se se tratasse apenas disso, bastaria efetivamente remetermo-nos para as muito boas obras de John Charpentier, Albert Ollivier, Georges Bordonove, Marion Melville, Raymond Oursel, Alain Demurger e muitos outros. Mas essas obras, por mais sérias que sejam, não resolvem todos os enigmas que a Ordem do Templo levanta.

Muitos investigadores se dedicaram às zonas de sombra desta história, com maior ou menor felicidade, maior ou menor loucura, é preciso dizê-lo. Nem todas as suas hipóteses são fiáveis mas muitos deles trouxeram o seu quinhão de luz a um tema que tinha muitos espaços de trevas. São necessários nomes como os de Louis Charpentier, Daniel Réju, Gérard de Sède, Gilette Ziegler, Guinguand, Weysen, para desbravar as veredas da História Secreta, por mais perigosas e assustadoras para o caminhante que sejam.

Porque, finalmente, digam o que disserem determinados historiadores encartados, a criação da Ordem do Templo continua envolta em mistérios; e o mesmo acontece com a realidade profunda da sua missão. Inúmeros locais ocupados pelos Templários apresentam particularidades estranhas. Atribuíram-se aos monges-soldados crenças heréticas, cultos curiosos e às suas construções significados e até poderes fantásticos. A seu respeito, fala-se de gigantescos tesouros escondidos, de segredos ciosamente preservados e de muitas outras coisas.

As diversas hipóteses formuladas contêm, sem dúvida, muito mais partes de sonho do que fatos provados, mas, mesmo por detrás das mais loucas, há muitas vezes parcelas de verdade que há que pôr a claro, por muito que desagrade aos racionalistas inveterados.

No que a isto respeita, convém determo-nos, por breves instantes, num caso curioso: o de Umberto Eco. Depois do seu êxito mundial, O Nome da Rosa, este universitário italiano vendeu vários milhares de exemplares de uma outra obra: O Pêndulo de Foucault. Nela, amalgama a seu bel-prazer tudo o que se relaciona com o esoterismo e os Templários, acumulando citações desinseridas do seu contexto, truncando-as de forma a adulterar as teses apresentadas; em resumo, utilizando processos bem conhecidos da desinformação. O objectivo de Umberto Eco parece ter sido ironizar, troçar de todos quantos procuram a verdade fora dos caminhos muito trilhados, o que, no entanto, é, em certa medida, também o seu caso. Encarniçou-se especialmente contra aqueles que se interessam pelos mistérios dos Templários: uns loucos! Por três vezes, é a frase que põe na boca de uma das suas personagens: «Desde o tempo em que eles [os Templários] haviam sido enviados para a fogueira, uma multidão de caçadores de mistérios procurara encontrá-los em todo o lado, e sem nunca apresentar a menor prova» - «Quando alguém repõe em jogo os Templários, é quase sempre um louco» - «Mais tarde ou mais cedo, o louco põe os Templários em jogo» - «Também há loucos sem Templários, mas os loucos dos Templários são os mais insidiosos» - «Os Templários continuam a ser indecifráveis devido à sua confusão mental. É por isso que tantas pessoas os veneram.»

Pois bem, assim seja. Convido todos quantos se interessam pelos Templários a partilharem um pouco de loucura comigo, na investigação dos mistérios da Ordem do Templo. Deixemos Umberto Eco entregue ao seu psicanalista, para que este lhe explique o que o levou a ler centenas de obras a que não atribui qualquer crédito e que procura ridicularizar.

Corramos antes o risco de, em conjunto, nos aventurarmos por caminhos não balizados, mesmo que possamos perder-nos neles. Tentemos esclarecer, de passagem, os mistérios das origens da Ordem e a influência de São Bernardo. Interessemo-nos pela colossal potência econômica e política que a Ordem do Templo representou e pelos meios que empregou, pelas fontes da sua riqueza. Investiguemos se foi herética e que cultos estranhos foram eventualmente praticados no seu seio. E, para tal, dediquemo-nos a examinar os vestígios que os Templários nos deixaram, nomeadamente gravados na pedra. Interroguemo-nos sobre a origem do impulso que deram à arquitetura da sua época e sobre as fontes dos seus conhecimentos nesta matéria. Procuremos na sua prisão e no seu processo as chaves mais misteriosas. Estudemos o que pode sobreviver desta Ordem e, por fim, visitemos alguns locais onde podemos respirar o odor estranho da sua presença e procurar os sinais tangíveis daquilo a que se convencionou chamar a História Secreta dos Templários.

Mas, antes, refresquemos por um instante os nossos conhecimentos, passando em revista os dois séculos da história da Ordem, de modo a adquirirmos assim os pontos de referência necessários para a análise da sua evolução no tempo.




http://www.scribd.com/doc/7235548/Michel-Lamy-Os-Templarios-Esses-G...

Maria Helena Silva Moura

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